Antes de abordar diretamente o tema-título, entendo necessário apresentar as três categorias de análises propostas por Freud:
- Análise Terapêutica, correspondente ao tipo de sintomatologia tratada pela psicanálise, como a histeria, a obsessão e a fobia;
- Análise de Caráter, relacionado diretamente a dificuldades comportamentais;
- Análise Didática, critério formativo do psicanalista.
Segundo Lacan, o analisando vai até o ponto em que foi a análise do psicanalista, quando o atual analista deixou de ser analisado. Por isso, a experiência de ser analisado, bem como o processo de transferência e tratamento das resistências é parte do itinerário formativo do psicanalista que não termina antes de sua experiência clínica. Para Freud, o psicanalista deve considerar sua própria análise como infinita e, periodicamente, se submeter à mesma.
Embora haja uma perspectiva de infinitude do processo para o psicanalista, isso não se aplica necessariamente ao analisado, havendo uma expectativa de término da análise, seja pela convicção da existência do inconsciente como pela separação da fantasia (ou irreal) do real ( ou “sinthoma”, como definiu também Lacan).
A recuperação do termo “sinthoma” em sua antiga forma latina, abre espaço para várias abordagens dentro da psicanálise, todas como manifestação do real. E dentro do real demonstra como é o relacionamento com o prazer e a subjetividade, como distinção da singularidade da pessoa entre todas as outras.
Sobre o trabalho analítico, Ferenczi - que também foi discipulo de Freud – defendeu que este não deveria ser “interminável”, porém deve encontrar um fim natural. Não há um tempo pré-determinado para a análise, devendo ser respeitado o período de desenvolvimento da análise caso a caso, o que não quer dizer atingir uma normalidade psíquica absoluta. Afinal, Freud mesmo alinhou uma série de questionamentos complexos como se seria possível eliminar definitivamente um conflito pulsional que nunca retornasse ou tratar conflitos de maneira profilática.
Ainda que uma exigência pulsional patogênica, em relacao ao Eu, estivesse resolvida, o fato não evidencia seu completo desaparecimento até o ponto em que seguramente não mais retornasse. Freud completa, aliás, que isso além de não ser possível nem seria desejável. O importante no tratamento analítico é domar a pulsão, acolhendo-a na hamonia do Eu para que não mais busque satisfação por meio de seus próprios caminhos.
Em resumo é dotar o analisado de autocontrole e de capacidade de buscar a satisfação sem os conflitos inerentes ao Eu e o inconsciente. É um tipo de emancipação íntima, quando a plenitude toma forma da consciência dos conflitos e suas respostas.
Por isso, a análise é um caminho e não apresenta soluções padronizadas. Trata-se de progredir encontrando a forma mais equilibrada da manifestação do “sinthoma” que, sendo real, enseja uma perspectiva de cura apropriada para cada caso específico. .